sábado, 18 de junho de 2011

Só de Sacanagem- Elisa Lucinda

Garimpando na rede atrás de algo interessante achei esse texto de Elisa Lucinda, de 2006. As palavas ditas para aquele ano continuam atuais. Segue o texto:

Meu coração está aos pulos!

Quantas vezes minha esperança será posta à
prova?

Por quantas provas terá ela que passar? Tudo isso que está aí no
ar, malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro, do meu, do nosso dinheiro que
reservamos duramente para educar os meninos mais pobres que nós, para cuidar
gratuitamente da saúde deles e dos seus pais, esse dinheiro viaja na bagagem da
impunidade e eu não posso mais.

Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz,
minha confiança vai ser posta à prova?

Quantas vezes minha esperança vai
esperar no cais?

É certo que tempos difíceis existem para aperfeiçoar o
aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no
nosso nariz.

Meu coração está no escuro, a luz é simples, regada ao
conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e os justos que os precederam:
“Não roubarás”, “Devolva o lápis do coleguinha”, “Esse apontador não é seu,
minha filha”. Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido que
escutar.

Até habeas corpus preventivo, coisa da qual nunca tinha visto
falar e sobre a qual minha pobre lógica ainda insiste: esse é o tipo de
benefício que só ao culpado interessará. Pois bem, se mexeram comigo, com a
velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear: mais honesta
ainda vou ficar.

Só de sacanagem! Dirão: “Deixa de ser boba, desde
Cabral que aqui todo mundo rouba” e vou dizer: “Não importa, será esse o meu
carnaval, vou confiar mais e outra vez. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos,
vamos pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês. Com o
tempo a gente consegue ser livre, ético e o escambau.”

Dirão: “É inútil,
todo o mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal”. Eu
direi: Não admito, minha esperança é imortal. Eu repito, ouviram? Imortal! Sei
que não dá para mudar o começo mas, se a gente quiser, vai dar para mudar o
final!

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